Assertividade: Uma competência essencial
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DESCRIÇÃO DA COMPETÊNCIA
Comportamentos que evidenciam que uma pessoa apresenta uma relação positiva consigo própria, é realista em relação aos seus pontos fortes e aos seus pontos fracos e apresenta um “locus de controlo interno”, ou seja, considera-se a primeira responsável por aquilo que lhe acontece e assume que é capaz de controlar o seu próprio destino.
INDICADORES COMPORTAMENTAIS
As pessoas que têm esta competência atualizada:
- Estão dominantemente orientadas para o futuro e não centradas sobre os erros ou os fracassos passados;
- Lidam, com facilidade e naturalidade com os problemas e com eventuais desgostos e frustrações;
- Experimentam todas as dimensões das emoções, sem deixar que essas emoções afetem o seu comportamento de forma negativa;
- Ajudam os outros e aceitam, também, a ajuda dos outros;
- Encaram os outros como seres possívelmente únicos e talentosos;
- Apresentam comportamentos de autoconfiança, como aceitação natural de cumprimentos, elogios e recebem uma crítica sem procurarem imediatamente justificar-se ou contra-atacar;
- Em situações oportunas, sabem usar a ironia em relação a si próprias, sem, todavia, se exporem ao ridículo;
- Tomam decisões por si próprias, baseadas nos seus próprios juízos do que é certo ou errado;
- Afirmam-se serenamente em todas as situações, recusando a agressividade, a passividade e as táticas de manipulação.
FRASE DE TESE
Ter um autoconceito positivo e uma capacidade equilibrada de afirmação pessoal, constituem uma “força motriz” essencial à vida de cada pessoa e determinam, em grande medida, as suas decisões e os seus comportamentos. De facto, é muito difícil a cada um de nós agir de uma forma não consistente com a visão mais profundamente interiorizada de quem e o quê acreditamos que somos. No entanto, ter uma autoestima saudável não pode ser confundido com o tornar-se “egótico”, tornar-se o “centro do mundo” e pensar e agir apenas em função dos seus interesses e dos seus valores próprios.
CONTEXTOS
Vários autores têm sublinhado a relação entre a autoestima e muitos problemas comuns à nossa sociedade. Nathaniel Branden, citado por Reece & Brandt (2002), assinala que “ quanto mais saudável for a nossa autoestima, mais nos sentiremos inclinados para tratar os outros com respeito, benevolência, boas intenções e lealdade – desde que os não percebamos como uma ameaça e desde que o respeito próprio seja o alicerce do respeito pelos outros.” Apesar de esta competência ter aspetos que intersetam diretamente outras competências como, por exemplo, a “Competência Emocional” e a “Resiliência”, pela sua importância e, sobretudo, pelo seu caráter estruturante em relação aos comportamentos, vale a pena dedicar-lhe uma referência mais específica e detalhada. Comecemos pelo que é aqui designado como o seu “caráter estruturante”. Uma competência é estruturante quando condiciona o desenvolvimento de outras competências. Se alguém quiser aprender, por hipótese, chinês, não terá obrigatoriamente de ter um determinado domínio em, por exemplo, inglês, porque a aprendizagem de uma língua é completamente independente e autónoma do conhecimento da outra.
No entanto, para aprender essa língua, a pessoa já precisa de ter uma “dose” razoável de autoestima que lhe dê, pelo menos, a autoconfiança suficiente para sentir que é capaz de a aprender. Se a autoestima e a autoconfiança forem muito baixas, provavelmente a capacidade de aprendizagem apresentará alguns défices significativos. Neste sentido, podemos dizer que as competências de autoestima e de autoconfiança são estruturantes da capacidade de aprendizagem. A autoestima e a autoconfiança constituem-se como desdobramentos do autoconceito que, por sua vez, constitui a base da capacidade de afirmação pessoal. A autoestima corresponde a um conjunto de ideias e de emoções que a pessoa experimenta em relação a si própria: é, digamos assim, o autoconceito valorizado. Este autoconceito, que não é mais do que “um exercício contínuo de atribuição de sentido” (Karp, 2002) que um indivíduo faz em relação a si próprio, resulta das interacções que construímos ao longo da nossa história de vida e constitui, por sua vez, uma espécie de ”esteio” de comportamentos, porque é na sua base que as pessoas interpretam o mundo e (re)agem sobre ele. Assim, o autorreconhecimento de sermos pessoas “com valor” e gostarmos de nós, constituem elementos essenciais para a nossa perceção de “auto-eficácia” que consiste na “crença de que seremos capazes de atingir aquilo que nos propusermos fazer” ( Reece & Brandt, 2002). Percebe-se, então, qual o motivo que leva as empresas a dar, hoje em dia, tanta importância à existência de um autoconceito positivo e da consequente capacidade de afirmação pessoal, quando querem selecionar um quadro ou um responsável para as suas equipas, num ambiente organizacional que gera grandes e difíceis desafios que põem à prova a capacidade de resistência ao stresse e apelam à ousadia e ao sentido de risco. Quando se tem um autoconceito positivo e a perceção de autoeficácia é elevada, a pessoa sente-se “ganhadora” e não só está melhor apetrechada como é estimulante para si enfrentar desafios difíceis que ponham bem à prova as suas capacidades. Quando, pelo contrário, a perceção de autoeficácia e a autoestima são baixas, as pessoas podem facilmente resvalar para comportamentos passivos, excessivamente reativos e, até, autodestrutivos. Quando tal ocorre, podem evidenciar tendências para se sentirem vítimas e serem invadidas pelo “síndroma do fracasso” (Reece & Brandt, 2002), com sentimentos e pensamentos do tipo “o mundo é um local inseguro e hostil”, onde têm a “sensação de não fazer parte do conjunto” e onde, como consequência disso, podem sentir uma “urgência em procurar o afastamento e a solidão”, em momentos difíceis onde “o próprio ato de falar faz doer” (Karp, 2002). A apresentação que aqui se faz desta competência pode levantar, em alguns espíritos a dúvida sobre se a afirmação pessoal é uma competência que as pessoas podem desenvolver ou uma característica da personalidade que, como tal, dificilmente pode ser modificável.
Do ponto de vista prático, e o ponto de vista prático aqui é a vida quotidiana de cada pessoa e as estratégias utilizadas para a construção pessoal do “sentido de propósito”, interessa pouco saber em que medida o passado de cada um, a sua genética e os seus “fantasmas” pessoais, se encarregaram de gerar algumas “feridas” na sua autoestima. Como refere Kierkgaard, citado por Karp (2002), “a vida só faz sentido quando se olha para trás, mas deve ser vivida olhando para a frente”. Neste sentido, é importante acreditarmos que qualquer que tenha sido o nosso passado e por mais complexo que ele tenha sido, está sempre e ainda nas nossas mãos desenvolver as competências que sejam necessárias para vencer o passado, transformar o presente e reinventar o futuro. Acredito estar aqui, justamente a mais rica heurística e o principal interesse prático da Assertividade. Na afirmação de que qualquer que seja a “massa” que constitui a parte submersa do nosso “iceberg”, é nas modalidades expressivas dos nossos comportamentos e na instrumentalidade das nossas ações sobre a realidade que se joga, de facto, o destino de cada um. Se a natureza nos deu esta magnífica e renovada capacidade de nos recriarmos, não é para a enclausurarmos e a deixarmos apodrecer numa qualquer gaveta dorida da memória. Sobretudo quando essa memória é a de coisas menos boas, de momentos difíceis de angústias e episódios dramáticos de fracasso. Porque, e ainda citando Reece & Brandt (2002), “Cair, na vida, não significa, necessariamente, fracassar. Não se voltar a levantar é que sim.”
Mário Ceitil
Diretor Associado da CEGOC