As Competências Nucleares da ICF: Comunicação Direta
Ainda sobre o tema das competências nucleares de coaching, da International Coaching Federation, retomemos a nossa partilha com a competência 7 “Comunicação Direta”, a última do grupo “C - Comunicar Eficazmente”.
Definição da Competência “Comunicação Direta” pela ICF
A ICF define esta competência como “capacidade de comunicar eficazmente durante as sessões de coaching, bem como de utilizar a linguagem que tiver o maior impacto positivo no cliente”. Isto é:
- Ser claro, articulado e direto ao compartilhar e fornecer feedback,
- Reformular e articular para ajudar o cliente a compreender, a partir de outras perspectivas, o que quer ou sobre o que está incerto,
- Definir claramente os objetivos, a programação das sessões e o propósito das técnicas ou exercícios de coaching,
- Utilizar uma linguagem apropriada e respeitosa para com o cliente (ex, não-machista, não-racista, não-técnica, sem jargões),
- Usar metáforas ou analogias para ajudar a ilustrar uma ideia ou para criar imagens verbais.
Os 6 novos marcadores da ICF
Acrescento, antes de partilhar o que “me corre” em pensamento, os 6 novos marcadores da ICF que, nesta competência, evidenciam efetividade em coaching, para o nível PCC (Professional Certified Coach):
- Marcador 1 - O coach partilha as suas observações, intuições, comentários, pensamentos e sentimentos para servir a aprendizagem do cliente e o seu avanço.
- Marcador 2 - O coach partilha as suas observações, intuições, comentários, pensamentos e sentimentos sem qualquer apego acerca de estarem ou não certos.
- Marcador 3 - O coach incorpora ou usa a linguagem do cliente que reflete a forma do cliente falar.
- Marcador 4 - O coach usa uma linguagem direta, clara e concisa.
- Marcador 5 - O coach permite que o cliente fale na maioria do tempo.
- Marcador 6 - O coach permite que o cliente fale sem interrupções, a não ser que tal tenha sido declarado.
Passo agora em nota rápida, sobre o cuidado, aqui implicitamente sugerido, que um “Coach ICF” deve ter para garantir um ambiente de comunicação efetivo, solto e que permita a total expressão do cliente. Esse cuidado deve ser evidenciado, quer ao nível da dinâmica da comunicação e da relação que é estabelecida entre ambos, quer ao nível da incorporação do estilo de comunicação do cliente no seu próprio estilo ou forma de comunicar. Por outras palavras, esta competência encoraja o coach a, tornar seu, o estilo de comunicação do cliente.
E centro as minhas considerações sobre esta competência, num dos seus aspetos mais curiosos e que parece “assustar” muitos coaches: aquele que contempla, em coaching, a partilha das observações, intuições, comentários, pensamentos e sentimentos do coach, com o coachee.
Distinções entre o coaching e o mentoring
Uma das mais importantes distinções entre o coaching e o mentoring é precisamente a passagem de conhecimento e experiência do coach/mentor para o coachee/mentee e que, supostamente, no caso do coaching, parece que deverá ser inexistente ou residual. Philippe Rosinsky, MCC, no seu livro “Coaching Across Cultures” refere que “… os coaches, ouvem, fazem perguntas e criam as condições necessárias para que os coachees descubram por si próprios o que é melhor para eles. Os mentores falam acerca da sua própria experiência, assumindo que ela é relevante para os mentees.”
Na forma como entendo as competências ICF, não deverá existir, em coaching, passagem de conhecimento ou experiência do coach para o coachee, o que não quer dizer que o coach não deva partilhar, com o seu coachee, as suas observações, intuições, comentários, pensamentos e sentimentos. Muito pelo contrário, gosto de declarar que, estando o coach estabelecido em escuta ativa, tudo o que “lhe chegar”, em pensamento, não dele, é do coachee. Se o coach tiver a percepção de que a informação que lhe corre em pensamento poderá ser útil para o seu cliente, em coaching profissional, está comprometido em “devolvê-la”. A César o que é de César!
O que possibilita esta partilha em coaching e distingue estes dois posicionamentos (coach vs mentor) é o conceito de ”apego”.
Num próximo texto darei continuidade a este tema. Entretanto, surge-lhe algum comentário ou questão sobre a interpretação desta competência?