Como será a formação no futuro?

22/05/2023

Se no início de 2023 podemos dizer que a formação se tornou tão estratégica, é porque as empresas precisam constantemente de se adaptar. Então, amanhã, para enfrentar os novos desafios que as esperam, elas precisarão de transformar os seus colaboradores em "aprendizes contínuos". Mas como se formarão eles? Nós contamos mais.

1 - Atualmente, qual é o estado atual da formação?

2 - Uma forte dimensão colaborativa

3 - As competências que se desenvolverão no futuro

4 - Qual será o papel dos formadores no futuro?

Atualmente, qual é o estado atual da formação?

Nas grandes empresas, é evidente que o departamento de formação está a transformar-se progressivamente num departamento de Learning & Development. Segundo Grégory Gallic, manager da oferta formativa do grupo Cegos, esta mudança de nome não é assim tão insignificante. "Ao contrário do primeiro, a Direção de L&D inclui a noção de aprendizagem. É um sinal de que a formação está a tornar-se menos monolítica e mais fluida", explica.

Aproveitando o aumento da potência das novas tecnologias e um ecossistema EdTech particularmente dinâmico, a formação está a libertar-se das limitações temporais e geográficas, incluindo a sala de formação tradicional. Consequentemente, "os colaboradores são agora mais autónomos na sua aprendizagem, devido à multiplicidade dos métodos de aprendizagem, mas também à individualização dos seus percursos de formação".

A análise de dados de aprendizagem, ou learning analytics, possibilitada pelas novas tecnologias, permite o aparecimento da aprendizagem adaptativa, ou seja, uma aprendizagem personalizada que melhora significativamente a experiência de aprendizagem. O problema reside na legibilidade da oferta de aprendizagem, que é "muitas vezes pouco clara e insuficientemente divulgada".

Em direção a programas de formação mais curtos, mas com maior frequência

A neurociência, que se refere ao estudo científico do sistema cognitivo, permite-nos ter uma visão mais precisa do que poderá ser a formação ideal no futuro. Alertando para os riscos de "sobrecarga cognitiva", ensinam-nos, por exemplo, que é mais eficaz realizar formações em períodos curtos, e distribuídos ao longo do tempo.

No futuro, o microlearning, qualquer que seja a sua forma (guia Interactivo, quizzes, vídeos, podcasts, etc.), deverá responder aos novos desafios da formação, nomeadamente no local de trabalho. Contudo, é importante que estas sessões (microlearning) sejam recorrentes (repartidas ao longo do tempo de forma regular) a fim de garantir uma melhor integração das novas competências. Uma vez que a memória é suscetível a esquecimentos, é essencial apostar na repetição para reforçar as conexões sinápticas, que ligam os neurónios entre si. Do mesmo modo, a formação deve captar a atenção dos formandos, estimulando os seus sentidos e emoções, por exemplo através da gamificação, da narração de histórias, do humor, etc.

Uma forte dimensão colaborativa

"Aprendemos sempre sozinhos, mas nunca sem os outros", escreveu o Professor Philippe Carré no seu livro de 2005 L'apprenance: vers un nouveau rapport au savoir. Uma ideia que certamente não é nova, mas que ainda é atual, numa altura em que as interações humanas são feitas principalmente através de canais digitais. Segundo Grégory Gallic, "o valor de uma ação de formação, ou seja, a sua capacidade de produzir um resultado tangível nas práticas de trabalho, assenta fortemente na interação humana entre os participantes e com o formador", afirma.

Para despertar o interesse dos formandos, a formação do futuro, quer seja presencial ou à distância, deve ser colaborativa e apostar na inteligência coletiva. As empresas já perceberam isso: entre as modalidades de formação de que dispõem, a aprendizagem social é a preferida por 52% dos DRH, de acordo com o mais recente estudo internacional “Transformations, Skills and Learning” publicado pela Cegos. No futuro, a aprendizagem social será particularmente relevante para a aprendizagem informal no local de trabalho. Também irá de mãos dadas com a vontade de autonomia dos colaboradores no desenvolvimento das suas competências.

As competências que se desenvolverão no futuro

A formação tornou-se, ao longo dos anos, um assunto altamente estratégico para as organizações. Nomeadamente porque estas se veem confrontadas com a obsolescência das competências dos seus colaboradores, o que gera necessidades significativas de upskilling e reskilling. À medida que novas tecnologias desafiam - a cada ano um pouco mais - as práticas profissionais, as formações devem ser mais orientadas para a criatividade, para o pensamento crítico, a empatia, o pensamento adaptativo... Em suma, "nas competências humanas que constituem o nosso valor acrescentado e que não podem ser reproduzidas pela inteligência artificial", afirma Grégory Gallic.

À medida que a IA terá impacto nas nossas profissões, competências como ter uma inteligência emocional elevada, demonstrar ética e saber discernir informações de acordo com a sua veracidade serão competências estratégicas para colaborar com a IA. "Os colaboradores do futuro também devem ser transdisciplinares, ou seja, ter competências verticais no seu trabalho, bem como capacidades horizontais para compreender os desafios dos colegas ao seu redor e, assim, evitar trabalhar em silos", diz o nosso especialista.

Qual será o papel dos formadores no futuro?

Acabou a postura do especialista que às vezes ainda caracteriza o formador! No futuro, espera-se que ele esteja no cruzamento das profissões de tutor, mentor e treinador. "O formador assumirá vários papéis, todos eles ligados à facilitação. No entanto, isto pressupõe que ele dê um passo para o lado e aceite que já não é o único detentor do conhecimento", explica Grégory Gallic. Organizar a co-criação de conteúdos e promover interações entre os formandos fará parte de suas funções. "Como um 'learning matchmaker', ele deverá combinar as necessidades de cada indivíduo com os diferentes conteúdos, nomeadamente aos dos seus pares", acrescenta.

Ao agregar uma miríade de dados sobre os formandos, a inteligência artificial incorporada nas ferramentas de formação irá também alterar profundamente a profissão de formador. No entanto, não a substituirá! Pelo contrário, a IA permitirá ao formador apoiar a aprendizagem ao longo do tempo (verbalização dos conhecimentos, reforço da aprendizagem, apoio continuo, etc.). Graças aos dados, ajudá-lo-á a ter uma melhor leitura dos comportamentos dos formandos, em particular dos seus momentos de desconexão.