Descodificar o futuro da aprendizagem

27/11/2020

Apesar da crise, e de muitas empresas se estarem a ver obrigadas a reduzir despesas, «existe uma consciência de que a formação, mais que um custo, é um investimento que contribui significativamente para o aumento dos resultados e da competitividade».

 

A Cegoc, apresentou em finais de outubro as principais conclusões de um estudo realizado internacionalmente (em Portugal, Espanha, Itália e Reino Unido, envolvendo 800 inquiridos), “Decoding the Future of Learning: Post Lockdown”. O objetivo foi aferir as motivações das empresas em relação à sua estratégia formativa para os seus quadros, procurando responder como será o futuro das empresas, dos seus colaboradores e clientes, bem como dos fornecedores de serviços no sector da formação e desenvolvimento profissional. Para analisar os resultando, focando na realidade portuguesa, e assim poder perceber tendências para a área de Recursos Humanos e Formação em Portugal, a revista HR PORTUGAL entrevistou Ricardo Martins, CEO da Cegoc.

 

- O que destacaria dos resultados deste estudo sobre o impacto da pandemia na formação e na aprendizagem?

São quatro as grandes conclusões a retirar deste estudo, que envolveu 800 inquiridos, oriundos de Portugal, Espanha, Itália e Reino Unido.

Em primeiro lugar, perante um contexto de incerteza provocado pelo surto pandémico e tudo o que ele continua a implicar, a formação é, ainda assim, considerada estratégica pela maioria das empresas que responderam ao nosso inquérito para enfrentar os tempos que se adivinham. Interpreto este resultado, desde logo, como uma evidência de que há uma consciência clara do quanto a formação é fundamental para acelerar a transformação e que ela contribui, mais ainda neste contexto, para o aumento do desempenho das pessoas e da competitividade das organizações.

A segunda conclusão é que durante o período de lockdown as organizações aceitaram em larga medida o desafio de passar a formação presencial para formatos 100% digitais, nomeadamente através da aposta em sessões síncronas online e aulas virtuais. (leia a resposta completa na entrevista)

- Centrando-nos apenas em Portugal, o que pode destacar?

As empresas portuguesas continuam cientes da importância da formação. No que toca ao investimento nesta área, o estudo desenvolvido pelo Grupo CEGOS aponta alguns números muito interessantes. Desde logo, verifica-se que 92% das empresas nacionais continuam a considerar a formação um pilar forte da sua estratégia e a comprová-lo está o facto de afirmarem continuar a manter orçamento para tal.(leia a resposta completa na entrevista)

- Já referiu que muitas empresas adoptaram formação 100% presencial e que o futuro passa por um mix de metodologias. Masqual perspectiva que seja a “preferência”? A formação presencial vai “perder terreno”?

Não é possível voltarmos, pelo menos para já, a apostar apenas em soluções de aprendizagem 100% presencial. Neste contexto, a esmagadora maioria das empresas, 90%, optou por apostar em percursos e soluções de formação à distância, com especial destaque para formatos de Digital Learning como webinars, classes virtuais e módulos de e-learning, sem esquecermos também, apesar de com menor preponderância em Portugal, os vídeos e os podcasts. Em 2021, apenas 15% das empresas nacionais afirma pretender retomar formatos de formação essencialmente presenciais. (leia a resposta completa na entrevista)

- As mudanças ocorridas este ano estão a ter impacto no “tipo” de formação escolhido? Que mudanças notórias identifica no que as empresas vos pedem?

É natural que perante uma realidade radicalmente diferente daquela que alguma vez acreditamos vir a ser possível fora de uma novela de ficção científica, as empresas tenham sentido obrigadas a repensar prioridades nomeadamente no que diz respeito aos seus planos de formação, especialmente no que a temas e conteúdos diz respeito. (leia a resposta completa na entrevista)

- Sendo que muitas empresas estão a fazer reestruturações para reduzir custos, não pode a formação “sofrer” também? Ou as empresas percebem a imprescindibilidade deste investimento para o sucesso?

Os resultados do estudo não refletem essa preocupação. Apenas 8% das empresas inquiridas afirmam que os seus investimentos em formação irão ser temporariamente suspensos. Naturalmente que as dúvidas em relação à evolução da pandemia, associadas a um cenário macroeconómico ainda muito ambíguo e tendencialmente desfavorável poderá conduzir as empresas a reverem esta posição. (leia a resposta completa na entrevista)

- Como podem as empresas potenciar o investimento na formação e escolher as metodologias e conteúdos mais eficazes para assegurar resultados?

Há que testar diariamente novas formas de conceber, instalar e escalar projetos de formação e transformação organizacional, nomeadamente em formato digital e à distância porque estes permitem a realização efetiva de poupanças em rúbricas que não acrescentam valor à experiência pedagógica, como são as despesas de deslocação, estadia e alojamentos dos formandos. (leia a resposta completa na entrevista)

- Quão estratégica é a formação profissional neste momento?

Num contexto de aceleração tecnológica crescente, em que o que se sabia ontem já não nos serve amanhã, em que tudo aquilo que aprendemos e nos trouxe até aqui, já não é suficiente para nos levar até onde precisamos de estar, para sobreviver e prosperar acolá, receio bem que a resposta à pergunta que me coloca seja autoevidente. Nos últimos 8 meses vivemos coletivamente o maior curso de formação profissional sobre adaptação ao novo amanhã que já chegou que alguma vez foi experimentado na História da humanidade.(leia a resposta completa na entrevista)

- Quais diria que são os principais factores de sucesso da aprendizagem?

Se ainda estivermos a falar de aprendizagem em contexto digital considero três, os fatores para o sucesso hoje em dia: a Conveniência já que o Digital Learning possibilita o acesso à formação em qualquer lugar, altura do dia e/ou dispositivo digital disponivel; a Personalização, isto é a possibilidade de cada qual escolher o percurso com os módulos síncronos e assíncronos que melhor o servem – algo que no formato 100% presencial é praticamente impossível já que uma vez em sala todos recebem o mesmo conteúdo independentemente de uns precisarem mais do início e outros mais do fim, e por último: a possibilidade de Humanizar a experiência mesmo que ela seja 100% online já que precisamos das emoções para memorizar e, consequentemente para melhor aprender. (leia a resposta completa na entrevista)

- Não basta falarmos das empresas, as pessoas também serão aqui fundamentais. A pandemia veio promover um salto tecnológico nas empresas, com impacto nos processos e também nas funções. Isso exigirá novas competências aos profissionais. Por um lado, são todos reconvertíveis? Por outro, estão todos disponíveis para essa reconversão.

A resposta mais honesta a essas duas últimas questões é… não sei! Gosto de pensar que sim, mas não tenho evidências absolutas de que assim seja. Esta crise vai obrigar muitos profissionais a fazer uma inflexão na sua carreira e a ter de decidir conscientemente onde vão apostar o seu tempo e o seu dinheiro para adquirir novas competências que lhe permitam voltar e, se possível, manter-se no mercado de trabalho sem se exporem à precariedade. Há quem lhe chameJust-in-time Learning e faz sentido, já que não estamos num tempo onde aprender algo, seja lá o que for é, por si só, sempre útil para o caso de virmos um dia a precisar desse conhecimento - Just-in-case Learning.(leia a resposta completa na entrevista)

- Que competências assumem maior relevância neste “novo mundo do trabalho”?

Como disse anteriormente, o progresso tecnológico e social está a colocar-nos à prova, exigindo-nos todo um leque de novas competências transversais, praticamente em todos os setores de atividade. Num documento que publicamos faz agora praticamente um ano, propusemos sete (7) soft skills para estar preparado para um futuro que já chegou e que a nosso ver, já começam a tornar-se ativos muito procurados, por serem escassos, e que merecem por isso a nossa aposta coletiva nos próximos anos. São elas a Colaboração Remota, a Comunicação Digital, a Agilidade e Adaptabilidade, a Criatividade e Sentido de Inovação, o Espírito de Iniciativa e Empreendedorismo, a Organização Eficaz do Trabalho e a Capacidade de (Re)Aprender a Aprender.

- Que tendências perspectiva para a área da Formação?

Sabemos que as ferramentas colaborativas e de aprendizagem online foram uma solução absolutamente eficaz e deram-nos uma ajuda preciosa nos tempos mais conturbados da pandemia, mas precisamos agora de continuar a perspetivar o futuro destas e de outras ferramentas e modalidades formativas. De acordo com o estudo, concluímos que o equilíbrio ideal será entre o que se perspetiva como as melhores práticas formativas e  a aprendizagem alternada em contexto de trabalho; cada vez mais o processo de aprendizagem formal e informal vão-se confundir um com o outro, ou seja, uma aprendizagem híbrida acompanhada por especialistas que se instalam na realidade do participante e ajudam-no a encontrar respostas para os seus reais problemas no exato momento em que ele os está a sentir. (leia a resposta completa na entrevista)

LEIA A ENTREVISTA COMPLETA AQUI