Já muito se tem dito e escrito sobre o futuro das relações de trabalho e a alteração do paradigma Industrial do século XIX. Claro que todas a gerações dizem e afirmam convictamente terem vivido tempos de grande mudança e ainda bem que assim é, pois como diz o poeta “todo o mundo é composto de mudança”.
O fator diferenciador é o da velocidade da mudança e não o da mudança em si. Ainda me lembro quando se afirmava que a televisão foi a “caixinha” que mudou o Mundo, tal foi a alteração que esta invenção provocou no século XX e as alterações de comportamento na vida do quotidiano e principalmente na das Famílias. O que pensariam os nossos avós do “smartphone”? Mas porque estou hoje com este “prefácio”? Porque de facto está a constatar-se uma profunda alteração nas relações entre o trabalho e o capital (numa versão de economista) e parece-me interessante refletir um pouco.
No Modelo do século passado, uma das grandes diferenças entre o capitalista dono da empresa e o trabalhador assalariado por conta do detentor do capital, era a de que cabe ao Capitalista apenas o risco do investimento. O capital, por definição, detém a empresa e arrisca, cabendo ao trabalhador o seu salário independente de um ano bom ou um ano mau. Em teoria, uns anos dão mais lucros e outros menos ou até prejuízo, mas enquanto a Empresa for viável, cabe ao capitalista assegurar o pagamento entre outros do salário dos seus trabalhadores.
Nos dias de hoje esta distinção não é tão clara uma vez que existem cada vez mais profissões onde se acumulam os dois papéis: o capitalista é ao mesmo tempo o trabalhador sendo que concentra todo o risco do seu negócio.
O “entrepeneur” passou a ser o sonho de todos e a própria Universidade de Gestão tem hoje como objetivo a formação de empresários em vez dos Diretores de Marketing do final dos anos 80 e toda a década de 90. E isso não tem nada de mal, mas tem um senão grande que interessa estarmos todos de sobreaviso: o empresário formado, treinado, com formação no seu negócio, com competências técnicas elevadas é alguém consciente dos riscos e da legislação, portanto capaz de embarcar nesta “aventura” sendo ele próprio a génese do capitalismo saudável, útil e mesmo essencial para o desenvolvimento económico das sociedades e dos povos.
O risco, porém, está quando este mesmo capitalismo, mas na sua versão “selvagem” e de exploração dos mais fortes pelos menos fortes, utiliza o sonho do empresário para ter trabalhadores “disfarçados” de empresários sem condições de acesso a seguros de acidentes de trabalho, sem segurança social e passando todo o risco do negócio para estes “trabalhadores Disfarçados de empresários”. Isto deve ser combatido e denunciado. Ser empresário formado, preparado e consciente dos riscos recomenda-se mas free-lancers “disfarçados” de empresários sem condições mínimas de proteção social e de formação deve ser evitado e combatido a todo o custo.