Não deixa de ser curioso que um dos temas mais estudados na literatura sobre recursos Humanos e aquele que teve mesmo direito a um “princípio científico” que de ciência nada tem (O princípio de Peter) , continue a ser um dos erros mais comuns no dia-a-dia das organizações: a promoção de um especialista a cargos de gestão.
Em teoria todos concordam que os perfis exigidos a um e a outro são diferentes, mas quando chega o momento da escolha de um gestor, especialmente em organizações com muito conhecimento instalado e de alta complexidade, a cultura fala mais alto e geralmente os próprios pares só aceitam para a sua chefia aquele que já demonstrou ser o melhor no conhecimento técnico.
Isto é particularmente verdade em Empresas onde a “ tribo “ dominante são ex-professores ou engenheiros: o mundo de onde vêm é altamente estruturado e de profundo aperfeiçoamento técnico constante pelo que as notas da faculdade, a própria Escola de onde se é oriundo ou os trabalhos publicados são uma verdade Universal que nunca poderá ser sobreposta por qualquer outra competência mais “soft”.
Uma das aplicações mais graves e sérias deste princípio tem sido a escolha dos estudantes de Medicina em Portugal onde apenas e unicamente se serve da nota para a sua seleção. Se olharmos para o perfil geral destes estudantes, tratam-se de alunos brilhantes, com imenso conhecimento mas pergunto-me se não estaremos a escolher “cientistas médicos” em vez de médicos.
Médicos precisam de falar com pessoas, têm um papel essencial nas comunidades onde estão inseridos e sobretudo tratam doentes e não doenças. As doenças são estudadas por cientistas e não por médicos. A maior parte dos sistemas de seleção de médicos fora de Portugal dá muita importância à nota mas igual importância a uma entrevista ou inúmeras entrevistas e testes para saber quais das competências “ soft” e essenciais para se ser médico estes possuem.
Como dizia um médico recém formado amigo meu sobre um doente que teve “ Ela dizia que tinha febre interior!! Como podemos trabalhar com esta ignorância por parte dos doentes? “Pois é isso mesmo que se exige a um gestor/ chefia: que compreenda os outros, que traduza em ação muitas das suas ideias mas acima de tudo, que tenha paciência e gosto para trabalhar com os outros.
Outro bom exemplo para desmontar este argumento é o do futebol: quantos bons treinadores de futebol foram excelentes jogadores? Será necessário ser um grande jogador para se ser um grande treinador? Se virmos os nomes atuais no panorama futebolístico concluímos que a maior parte dos treinadores de topo ou foram jogadores medianos ou não jogaram mesmo futebol profissional! E podem treinar especialistas? Sim. E são reconhecidos por eles? Sim. Este é um dos exemplos onde as organizações podem e devem aprender com o mundo do futebol.