As organizações estão cada vez mais a usar o Planeamento por Cenários para se prepararem melhor para o futuro. Aparentemente, o planeamento por cenários está na moda.... E se, por um lado, é bom sinal, aumentando a capacidade organizacional de, explicitamente, incorporar a incerteza na tomada de decisão, por outro lado é sinal de que vivemos e tomamos decisões num mundo atribulado, cada vez mais contingente e em acelerada transição...
O Planeamento por Cenários está na moda? Aparentemente sim!
Acreditando nas manifestações de interesse que tenho testemunhado e na perceção de analistas ligados a diferentes setores, as organizações estão cada vez mais a usar esta ferramenta para se prepararem melhor para o futuro. Sou suspeito, claro, mas de facto esta tendência não me surpreende.
O manancial de riscos contextuais e oportunidades que a generalidade dos setores económicos enfrenta e o poder estratégico do planeamento e do pensamento por cenários para lidar com eles, justifica-o.
Incertezas e disrupções
Falamos de incertezas macroeconómicas e geopolíticas mas também de outros desafios de médio e longo prazo que apelam a uma ação urgente já no presente. Desafios ligados, por exemplo, às transformações demográficas, à digitalização, à instabilidade política, às alterações climáticas / sustentabilidade, à energia (por exemplo, a evolução dos preços do petróleo), à disponibilidade de matérias-primas e à competição por talentos.
Estamos também a falar de possíveis disrupções (eventos com baixa probabilidade percecionada mas com impacto muito elevado) que devem ser consideradas, o que inclui as causas profundas que determinam a sua evolução, as possíveis decisões estratégicas e os novos caminhos que podem implicar, bem como eventuais ajustamentos no portefólio de investimento. Se eventos deste tipo (ou similares) vierem de facto a acontecer, os decisores estarão muito melhor preparados e alinhados, as suas decisões serão mais rápidas e sustentadas. Um conjunto específico de indicadores precursores/antecipatórios também pode ser construído, dotando as organizações de uma maior capacidade de identificação sistemática dos pequenos sinais de grandes mudanças no seu contexto estratégico.
Conteúdo e processo
Contudo, uma das caraterísticas centrais do planeamento por cenários é o facto de o próprio processo de construção de cenários ser pelo menos tão importante quanto o seu conteúdo final. Durante o referido processo, os atores chave, que têm de tomar decisões estratégicas, participam na identificação de oportunidades específicas para a sua organização. E é na geração e teste das alternativas estratégicas, que emergem em resultado das transformações alvo de simulação/cenarização, que se promove uma cultura de aprendizagem no seio da organização e se avaliam, à luz de diferentes futuros possíveis, a robustez das suas atividades “business‑as-usual” e dos atuais critérios de decisão e prioridades.
Por isso, sim, aparentemente o planeamento por cenários está na moda. E se, por um lado, é bom sinal, aumentando a capacidade organizacional de explicitamente incorporar a incerteza na tomada de decisão, por outro lado é sinal de que vivemos e tomamos decisões num mundo atribulado, cada vez mais contingente e em acelerada transição, com a substituição das estruturas sociais e económicas que marcaram o século XX e os processos ocidentais de industrialização.