"O bom é inimigo do ótimo" vs "o ótimo é inimigo do bom"
Isto passa-se em relação à tão propalada e discutida expressão de que «o bom é inimigo do ótimo»; e, de facto, ela é tão discutida e tão difundida que, por vezes, uma generalização abusiva leva a que se se pratique, sem critério, a transformação semântica da frase, substituindo-a por uma outra, com ressonâncias semelhantes, mas de significado substancialmente diferente: «o ótimo é inimigo do bom».
Seja qual for o posicionamento relativo dos elementos significantes da frase, que não cabe problematizar e desenvolver neste espaço, ela é com frequência citada quando queremos defender a ideia de que não vale a pena sermos demasiado exigentes em relação a determinada coisa (o ótimo), aceitando a inevitabilidade de nos ficarmos sempre por uma certa mediania (o bom). E mais: se, por acaso, nos esquecermos do significado da frase e ignorarmos o seu incontornável realismo, a perseverança na porfia do ótimo poderá acabar por gerar condições para que nem o bom se consiga obter.
‘So’…, o melhor é ‘keep it cool’ e «não fazer grandes ondas», porque, no final, «o que for há-de soar».
Este paradigma de uma certa «áurea mediocridade» tem uma larga tradição na vida empresarial, sobretudo nas formas de organização marcadas pelos excessos da industrialização e da burocracia, e tem sido aproveitado como bandeira de legitimação de práticas e atitudes daqueles que galharda e convictamente prosseguem o objetivo profissional de serem apenas «suficientemente bons para não serem despedidos».
Mas não é, de todo, nem o tipo de atitude requerido nas empresas modernas nem a mentalidade consentânea com «o trabalho do futuro».
"Fazer mais com menos"
De facto, em contextos cada vez mais difíceis, exige-se de todos os profissionais que «consigam fazer mais com menos», o que só é possível através de uma atenção focalizada e de uma grande entrega e um grande envolvimento pessoal, sem reservas mentais nem tibiezas que possam constituir-se como barreiras ou obstáculos a uma verdadeira orientação para a excelência. Neste contexto, o paradigma mental não pode ser, já, o de ser apenas bom, em condições sociológicas e de mercado onde só os muito bons terão condições para viver percursos profissionais estimulantes e com sustentabilidade.
Nesta perspetiva, o bom será, realmente, inimigo do ótimo, sobretudo se se constituir como uma forma de obnubilação e de autoengano que nos impeça de ver a grandeza que desponta em cada um de nós.