Uma das mais inequívocas e poderosas manifestações de Inteligência Emocional de uma pessoa, é conseguir fazer a autorregulação das suas emoções de modo a que elas possam facilitar, e não interferir, na realização das atividades e tarefas quotidianas. No entanto, uma leitura apressada e de sobrevoo desta proposição pode gerar alguns equívocos como, por exemplo, o que resulta na tradicional sobrevalorização das pessoas ditas supercontroladas, de quem se diz que têm “personalidades fortes”, em detrimento daqueles que ostentam uma maior instabilidade nos seus estados emocionais e afetivos, tendencialmente catalogados como pessoas “frágeis” e de “pouca personalidade”.
Ora, como acontece com muitas outras coisas na experiência humana, aquilo que o senso comum dá como adquirido, nem sempre corresponde ao que, como salienta Daniel Pink, “a ciência sabe”, embora nem sempre as pessoas e as organizações pratiquem.
“O teste do marshmallow”
Relativamente às questões emocionais, é facto que a ciência já demonstrou que a competência para controlar as emoções, particularmente a que se manifesta na capacidade de as pessoas resistirem aos apelos emocionais mais “telúricos”, apresenta uma forte correlação com padrões de sucesso na vida, como ficou demonstrado num estudo “clássico”, conhecido como “o teste do marshmallow”.
Nesse estudo, realizado pelo psicólogo Walter Mischel, na Universidade de Stanford, nos anos 70, os investigadores convidaram crianças de 4 anos a entrarem, um a um, numa sala para brincar, num jardim infantil do campus da universidade. Nessa sala, os investigadores pediam à criança para escolher um marshmallow de que gostasse e depois davam-lhe a seguinte indicação: “Se quiseres, podes comer agora o teu doce. Mas se não o comeres até eu voltar, depois de ir ali fora fazer uma coisa, podes comer dois ou três”. Como a sala estava totalmente desprovida de distrações, sem brinquedos, livros e móveis, ter um domínio de si próprio em tais condições era uma façanha heroica para uma criança de 4 anos.
Veja o vídeo que simula este teste.
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O estudo diacrónico realizado, muitos anos depois, sobre as mesmas crianças, agora já adultas, demonstrou que aquelas que tinham resistido a comer o marshmallow, eram agora pessoas de maior sucesso do que os que, cedendo aos impulsos, tinham devorado o dito de imediato.
Se bem que este estudo possa vir em favor da consolidação do mito da “personalidade forte”, é preciso estarmos alerta em relação às aparências: é que há pessoas que se comportam como aqueles vulcões que estão muito tempo aparentemente serenos, mas que, um belo dia, sem se saber como nem porquê, fazem desabar sobre nós a impetuosidade tóxica da sua lava.
É que, como diz o povo, as aparências iludem. Segundo consta, Adão também era um verdadeiro potentado de força; e, apesar de, nessa altura, não haver marshmallows, também não resistiu a dar a sua “dentadinha”. E nós cá andamos, ainda hoje, a penar por causa da sua incontinência emocional.