COACHING: como alargar o perímetro da “escolha” na construção do seu próprio futuro
O coaching fornece os mecanismos através dos quais os indivíduos podem ser capazes de desafiar as narrativas que dominam os enquadramentos sócio organizacionais em que se inserem e que influenciam os padrões comportamentais dos que neles vivem e atuam.
Este desafio ou, para sermos mais precisos, este auto desafio, não é, no entanto, uma tarefa fácil. Muitas vezes, os quadros e os executivos empresariais chegam às sessões de Coaching com uma ideia já pré formatada sobre um cenário ideal de mudança, consubstanciado numa visão aparentemente consistente de um futuro desejado que, muitas vezes, não passa de uma projeção dos seus próprios desejos (ou ansiedades) pessoais em relação à organização. Pela sua expressão fantasiada, esta visão surge, por vezes, como a configuração de um “Futuro Impossível”, embora a pessoa esteja convencida de que a sua não concretização se vai devendo à responsabilidade dos outros, ou de circunstâncias que estão fora do seu “Círculo de Influência”.
Sem se dar conta disso, a pessoa cai no embuste que teceu a si própria; através de uma confortável “mentira vital”, a de que a “culpa é dos outros”, furta-se à confrontação inquietante com uma “verdade simples”: a de que o verdadeiro problema reside na forma como cada um “lê” a realidade.
Neste contexto, o processo de coaching vai atuar ao nível do “jogo íntimo”(inner game) que a pessoa realiza consigo própria, e vai ajudá-la a reinventar as suas modalidades de leitura da realidade. Como?
Através de um processo de aprendizagem transformacional, ou seja, uma aprendizagem que não se traduza apenas na aquisição de novos conhecimentos mas que possibilite a transformação de conhecimentos, atitudes e paradigmas já adquiridos.
O verdadeiro propósito da aprendizagem transformacional é desenvolver, no coachee (a pessoa alvo do processo de coaching, também designada por “cliente” ou ainda por “the person being coached”), uma consciência crítica sobre as suas próprias convicções e crenças; o papel fundamental do coach é o de desafiar as assunções básicas do seu cliente, através da colocação de questões exploratórias e, mesmo, provocatórias, oferecendo apoio na criação de alternativas e na exploração das consequências possíveis da atualização dessas alternativas na vida futura do coachee. Neste sentido, o coaching é uma metodologia de intervenção centrada no futuro e constitui, inequivocamente, “a perspetiva da escolha (no desenvolvimento de competências) no management e na liderança”(Halina Brunning).
Destas linhas de reflexão resultam diretamente duas consequências, ou duas ilações, em relação aos processos de coaching:
- A primeira é a de que a intervenção de coaching, para ser eficaz, não pode ser pura e simplesmente imposta de “fora para dentro” (podendo ser, contudo, sponsorizada por uma organização), mas sim decorrer de uma verdadeira dinâmica “inside out”, no contexto da qual o coachee se sinta o verdadeiro protagonista e agente do seu próprio processo de transformação pessoal;
- A segunda é a de que as ferramentas fundamentais para a mudança existem já dentro de cada pessoa e que o passo fundamental que é necessário dar é assumir uma autoconsciência mais lúcida, sistémica e alicerçada numa leitura crítica em relação à realidade e, por essa via, construir uma nova narrativa pessoal melhor adaptada e, sobretudo mais focalizada para os resultados da mudança que cada um pretenda alcançar.