Emoções e capital psicológico

Para iniciar esta reflexão, vou pedir aos eventuais leitores que tenham a generosidade de gastar algum do seu tempo a ler estas linhas, que pensem por um momento na sua…conta bancária. Sim, leram bem: conta bancária.

Alguns tê-la-ão bem recheada, ou mesmo farta, que lhes permite darem-se ao luxo de não terem a dimensão do saldo permanentemente atravessada no fluxo quotidiano do pensamento.

Outros, pelo contrário, com menores recursos, lutam para que os pensamentos compulsivos sobre as variações do saldo não perturbem a exigida focalização nas suas habituais atividades quotidianas.

E agora pergunto ao leitor: quantas vezes, por dia, pensa na sua conta bancária?

A que conclusão chegou?

- Pertence à primeira categoria, dos que não se veem obrigados a ter de dispensar muita atenção a coisas tão “triviais”?

- Ou à segunda, a dos que quase não conseguem pensar noutra coisa?

Trago esta pequena “trivialidade” à colação para salientar algo que já sabemos há muito tempo, mas do qual nos esquecemos com frequência: é que, fazendo o devido jus aos “velhos” modelos de Maslow e Herzberg, acontece-nos só darmos verdadeiro valor às coisas, quando elas…nos faltam (às vezes também acontece com as nossas relações com os outros…).

De facto, há certas coisas e certas condições na vida que, pelo facto de habitarem com tanta regularidade o quotidiano, estão de tal modo inscritas na nossa noção subjetiva de normalidade que não conseguimos ter a self awareness suficiente, não só para consciencializarmos a sua importância como para tirarmos maior partido do seu verdadeiro potencial.

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“Conta corrente emocional

Tal como acontece com o nosso habitual saldo bancário, todos nós temos também uma “conta corrente emocional”, termo que foi popularizado por Stephen Covey nos “7 Hábitos…”, que é constituída pelo saldo dos créditos e débitos emocionais que realizamos nas nossas “transações” com os outros. De uma forma simples, quando fazemos uma coisa que agrada aos outros, realizamos um crédito; quando, pelo contrário, agimos de modo a provocar emoções negativas, debitamos uma certa quantidade de energia na “conta corrente emocional”.

Diferentemente daquilo que acontece com as contas bancárias, onde a maioria dos comuns mortais alimenta uma, duas, ou (com sorte) aí umas três, a “conta corrente emocional” é mais…”democrática”, chamemos-lhe assim: cada um de nós tem tantas quantas as pessoas com quem interage no quotidiano, particularmente com aquelas com quem se relaciona com regularidade. No entanto, o facto de termos muitas “contas correntes emocionais” não significa, necessariamente, que em todas elas tenhamos saldos positivos, como é óbvio. Isso depende de nós, depende dos outros, depende do tipo de relação o que estabelecemos com os outros e depende também da quantidade de Capital Psicológico e Emocional disponível.

 

"Capital psicológico e emocional”

Ora, tal como cada um de nós obtém o seu “capital financeiro” através de um conjunto de atividades profissionais (excetuando os que…não), também o nosso “capital psicológico e emocional”, de onde saem os recursos para as nossas “contas correntes”, é uma resultante das atividades que realizamos, sendo que, neste caso, estão envolvidas todas as atividades quotidianas, tanto profissionais como pessoais.

Algumas dessa atividades ou ações contribuem para aumentar e expandir os nossos “estados subjetivos positivos”, de onde emanam, de acordo com Luthans, os fluxos que alimentam o “Capital Psicológico” (PsyCap). São as atividades que realizamos com prazer e são as relações que nos fazem fruir um sentimento de bem-estar e de felicidade.

Outras, porém, atividades e relações, suscitam a frustração e a melancolia, a revolta e a raiva, um sentimento de permanente adiamento das coisas que sentimos como importantes e a redundância viciosa de uma sensação de vazio. A frequência com que sentimos estes “estados subjetivos negativos” determina o grau em que medida definhamos e desmantelamos a nossa riqueza interior e criamos as condições para gerarmos o nosso próprio inferno.

Donde, a “one million dollars question” é esta: Será que estamos a fazer alguma coisa de concreto para, a cada dia que passa, aumentarmos o nosso Capital Psicológico e Emocional? Ou estamos progressivamente a condenar-nos a reduzir essa nossa energia vital à categoria da larva?

Citando uma expressão utilizada com frequência por uma estação de rádio: “talvez valha a pena pensar nisto”.

Pela minha parte, prometo voltar ao assunto. Brevemente.

Se, entretanto, nos quiser dar as suas respostas, ou outras sugestões, elas serão, sempre, bem-vindas.

Escrito por

Mário Ceitil

•Licenciado em Psicologia pelo ISPA;•Professor Universitário;•CERTIFIED EXECUTIVE COACH pelo FranklinCovey/Columbia University Executive Coach Certification Program (Salt Lake City – EUA);•PROGRAMA DE FORMACIÓN DE COACHES PROFESIONALES – Nivel Básico (ACSTH – Approved Coach Specific Training Hours), pela Escuela de Coaching Ejecutivo da Tea-Cegos (Madrid, Espanha);•PROGRAMA DE FORMACIÓN DE COACHES PROFESIONALES – Nivel Avanzado (ACSTH – Approved Coach Specific Training Hours), pela Escuela de Coaching Ejecutivo da Tea-Cegos (Madrid, Espanha);•Managing Partner da Cegoc, de 1993 a 2015;•Consultor e Formador da Cegoc, desde 1981.•Coordenador da Escola de Coaching Executivo (2015/2016),
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