Pirataria emocional…e assuntos correlatos
Muitos de nós (provavelmente a grande, grande maioria) já estivemos em situações em que certos fluxos emocionais se manifestam como se “tomassem conta de nós” e comprometem seriamente a nossa capacidade para dar respostas adaptadas e coerentes às situações.
As expressões coloquiais que as pessoas usam para descrever os seus estados anímicos nestas situações são particularmente eloquentes:
- “Foi uma espécie de onda que subiu por mim acima”;
- “Deu-me cá uma coisa”;
- “Fiquei sem pio”;
- “Tive uma branca”;
- Ou ainda, em situações mais drásticas, “se não me tivessem agarrado, nem sei o que poderia ter feito”.
Daniel Goleman designa estes estados emocionais, que perturbam o discernimento e nos fazem perder a necessária capacidade de autorregulação, como “Emotional Highjacks” (“piratas emocionais”) e define-os como situações de descontrolo emocional em que as respostas comportamentais das pessoas, em vez de serem comandadas pelo córtex pré-frontal, o “grilo falante” da consciência, são totalmente dominadas pela amígdala, glândula situada na base do cérebro (por favor, não confundir com as amígdalas, que ficam um nadinha mais abaixo) e que se comporta como um verdadeiro “marcador somático” das vivências emocionais.
Os exemplos possíveis de situações de “ataques emocionais” são inúmeros e extremamente frequentes:
- Quando nos dedicamos de “corpo e alma” a um projeto e, subitamente, recebemos uma “determinação superior” a cancelá-lo;
- Quando estamos perante um chefe e ficamos subitamente “mudos” e incapacitados de nos afirmarmos;
- Quando ficamos sufocados pela raiva e não controlamos as “descargas de bílis”;
- Quando ruborizamos visivelmente, e não o queríamos ABSOLUTAMENTE fazer;
- Quando sentimos uma tensão enorme para fazer “boa figura” e só “saem disparates”.
Estes e muitos outros exemplos são, hoje, extremamente frequentes e as investigações que se têm produzido neste domínio (ver, por exemplo, o estudo “Emoções no Trabalho: O que as pessoas sentem e como se pode medir”, conduzido por Cynthia Fisher e citado num recente post da EBW Worldwide) evidenciam que as condições de vida nas sociedades e nas organizações atuais são terreno fértil para a criação de condições que constituem verdadeiros desafios ao equilíbrio emocional das pessoas, sendo, por isso, imperativo desenvolver e expandir as competências nucleares da Inteligência Emocional.
É justamente da investigação científica neste domínio que decorrem algumas das prescrições práticas para comportamentos autorreguladores, como, por exemplo, manter o autodomínio através dos processos de relaxação e “mindfullness”, “ganhar perspetiva” após experiências de fracasso ou desapontamento ou procurar “modalidades de escape produtivo”, quando estamos expostos a experiências de frustração ou de emoções “tóxicas” continuadas.
Estes (e outros) comportamentos podem constituir-se como respostas eficazes à “piratagem emocional” que por aí pulula, sendo a boa notícia o facto de poderem ser desenvolvidos através de aprendizagem e de treino, afirmando, assim, a possibilidade da libertação da experiência humana das grilhetas do determinismo genético-constitucional.
Se não for suficiente, há ainda o recurso às resignificações de mindset, às visões alternativas e às reconceções sobre os próprios “piratas”, com, eloquentemente, fazia uma amiga minha, referindo-se à personagem de Johnny Depp no filme “Os Piratas das Caraíbas”: “é que, com um pirata destes, até eu gostava de ser abalroada!”.