Mas haverá algo que ainda não tenha sido dito sobre Motivação?
A Motivação é um dos mais icónicos temas da chamada “psicologia popular”, sobre o qual toda a gente tem uma ideia já formada e cujas asserções básicas já foram devidamente categorizadas nos canais do senso comum. Por isso, abundam as referências coloquiais às soluções dos diversos problemas de motivação que por aí andam à solta, em arremedos de cultura organizacional de pacotilha, habitualmente arrematados com as invetivas categóricas que apontam o dedo aos “culpados do costume”: a sociedade, as empresas e, naturalmente, os chefes, que não motivam os colaboradores.
“Não existem pessoas desmotivadas; existem objetivos que não são motivadores”
Acontece que, em abono destas verdades incontornáveis, também têm vindo a terreiro alguns supostos especialistas, que cotejam a neurociência para rechearem as suas prédicas sobre a motivação de um carácter de cientificidade implacável. Um desses exemplos li-o há dias, numa desses registos digitais que, quotidianamente, nos invadem os ecrãs dos computadores ou outros dispositivos móveis (como este, aliás, que o leitor tem agora pela frente…) em que o autor, citando justamente os contributos dos estudos da neurociência sobre o funcionamento do cérebro, declarava, decisivo, que, e cito, “não existem pessoas desmotivadas; existem objetivos que não são motivadores”.
Reconheço o possível encanto da frase e até concedo que esteja bafejada de uma certa heurística; no entanto, que dizer daquelas pessoas que, literalmente, passam a vida a esvoaçar de objetivo em objetivo, de sonho em sonho, sem se deterem em nenhum em especial ou até daqueles outros que, simplesmente vegetam casuisticamente no correr dos dias, deixando a sua vida escoar no sem sentido ritual dos hábitos quotidianos?
"Será que os problemas de motivação se resumem ao facto de termos objetivos eventualmente não motivadores?"
Claro que esta asserção é imensamente consoladora para as mentes que se comprazem na ladainha acusatória de tudo quanto se possa reunir na categoria amorfa dos “outros”. Mas será que isto é mesmo assim? Mesmo invocando o simples bom senso, será que os problemas de motivação se resumem ao facto de termos objetivos eventualmente não motivadores? E a ser assim, de quem é a responsabilidade disso? Dos outros, claro, porque não faz sentido a pessoa estabelecer para si própria objetivos que não sejam…motivadores. Isso equivaleria à pessoa dar uma forte cacetada no seu próprio pé, só para ter um bom pretexto para… gritar que está com dores.
Estes e outros temas e reflexões suscitam a questão de que os problemas da Motivação, longe de estarem realmente compreendidos, convocam, em permanência, novas dúvidas e novos desafios, que não podem ser respondidos através de fórmulas simplificadoras.
Neste contexto, é interessante seguir de perto as contribuições que Daniel Pink vem dando sobre o tema, a partir da publicação do seu livro “Drive” que apresenta o modelo de Motivação 3.0.
- Quais são as bases deste modelo?
- Quais as plataformas de ação que ele sugere?
Estas são algumas das questões que procurarei clarificar nos textos seguintes desta série. Se o leitor, claro, tiver a paciência e…a motivação para os seguir.