Quando até os role models apagam a diversidade dos relatórios

Empresas que durante anos foram consideradas benchmarks de boas práticas - referências globais, vistas como role models de responsabilidade social - apagaram referências à diversidade e inclusão dos seus relatórios corporativos. Este não é um gesto isolado: é o sinal mais visível de uma tendência global, em que a Responsabilidade Social das Empresas (RSE) deixa de ser prioridade estratégica para se tornar descartável. RSE não pode ser só marketing condicionado pela conveniência do momento.
RSE começa em casa: responsabilidade quando o vento sopra contra
Nos últimos anos, a diversidade, a equidade e a inclusão ganharam espaço. Mas hoje até empresas vistas como exemplos estão a recuar, cedendo a pressões políticas ou ao receio da reação social.
O Estudo Internacional de RSE da Cegoc evidencia a contradição: menos de 30% dos colaboradores acreditam que o compromisso das suas empresas responde aos grandes desafios globais. O risco é claro: retroceder precisamente onde a ação é mais necessária.
É nestes momentos que se distingue quem leva a RSE a sério. Responsabilidade social não se mede em relatórios de sustentabilidade, ratings ESG ou certificações de diversidade: mede-se na forma como as organizações vivem os seus valores no dia a dia.
E há custos reais em recuar. As empresas que o fazem tornam-se menos atrativas para talento exigente: perdem em employer branding, fragilizam a sua reputação corporativa, reduzem a sua capacidade de atrair e reter talento e arriscam perder relevância num mercado cada vez mais competitivo. O contrário também é verdade: organizações que assumem a diversidade e o bem-estar das suas pessoas constroem equipas mais motivadas, aumentam o engagement, fortalecem a cultura organizacional e reduzem o turnover, criando contextos mais fortes, coesos e preparados para enfrentar a complexidade do futuro.
Esta diferença entre discurso e prática também aparece nos dados: 94% dos colaboradores em Portugal consideram a RSE um desafio importante, mas só 26% se sentem realmente envolvidos nas políticas das suas empresas. Liderar em RSE é, acima de tudo, passar da intenção para o envolvimento efetivo.
Liderar em RSE significa criar condições que respeitem as pessoas: políticas de work-life balance, com flexibilidade de horários, regimes de trabalho híbridos, programas de bem-estar físico e psicológico, medidas que reconheçam os desafios reais que os colaboradores vivem e promovam uma cultura verdadeiramente people-centric. Significa valorizar a diferença em todas as suas formas, apoiando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e promovendo ambientes de trabalho saudáveis e coerentes.
O futuro da responsabilidade social não é apenas reduzir emissões de CO₂, calcular a pegada de carbono ou publicar indicadores de diversidade de género: é transformar as organizações em ecossistemas coerentes, onde as pessoas se sentem respeitadas, incluídas e parte de um propósito comum.
As organizações têm hoje uma palavra decisiva a dizer: recuar na inclusão é abdicar do seu papel social.
O futuro não se constrói com relatórios vazios ou retrocessos. A sua organização vai abdicar do seu papel social ou vai liderar pelo exemplo?