Ernest Hemingway disse-o de forma bastante simpática: “A primeira versão de qualquer coisa nunca vale nada”. Hemingway foi um escritor exímio e sabia a verdade. E muitos outros grandes autores podem dizer-lhe o mesmo: que a parte mais difícil de um trabalho é sempre a sua edição. A mesma lógica se aplica inequivocamente aos negócios. O segredo do sucesso está em polir, refinar e editar o plano de negócios até que ele seja simples, definido e o melhor que pode ser feito.
Recentemente, vi a Procter & Gamble tomar a decisão de fazer menos. A empresa anunciou a venda do seu negócio de beleza à Coty, no intuito de conseguir uma organização mais simples e ágil. Esta foi uma decisão drástica e, na minha opinião, a primeira coisa que me pareceu realmente ousada e corajosa em muito tempo – desinvestir no negócio para conseguir crescimento.
Uma das lições mais críticas que se aprende nos negócios (e na vida) é que menos é genuinamente, verdadeira e completamente, mais. Reduzir e editar as escolhas sobre o que fazemos, é isso que faz a diferença. Isto aplica-se a) à escrita e b) à liderança. A verdade é que fico constantemente impressionada com a forma como as pessoas mais inteligentes que conheço têm uma capacidade inata de tornar o complicado em algo espantosamente simples.
Também a grande liderança se baseia essencialmente em tomar decisões. Em escolher menos.
E com a grande literatura acontece o mesmo. Corta-se o supérfluo e o excesso. O refinamento e a afinação da escrita ajudam a criar um impacto real. Os grandes criativos publicitários pensam o mesmo. É o que escolhemos não colocar num anúncio que é tão poderoso quanto o que escolhemos colocar.
Este foco na edição é particularmente verdadeiro se olharmos para o desenvolvimento de um produto. Decidir o que não colocar num produto é mais importante do que decidir o que colocar. Gosto, por isso, do facto de que na Square, a empresa de pagamentos de Jack Dorsey, os gerentes de produto sejam designados “Editores de Produto”. Em qualquer produto, qualquer plano, qualquer comunicação, é muito fácil adicionarmos mais e mais e acabarmos com menos. Demasiada confusão, demasiada escolha – quando, no fundo, os consumidores não querem mais, querem simplicidade.
Steve Jobs aplicou isto perfeitamente quando voltou à Apple, olhou para os produtos e reduziu o número de produtos em 70%.
Um editor ousado, corajoso e famoso disse uma vez: “Decidir o que não fazer é tão importante como decidir o que fazer”. E os líderes que fazem escolhas sobre o que não fazer merecem todo o nosso respeito.
Não olhe para o seu negócio para ver o que vai fazer e como o vai fazer crescer; olhe para o que vai escolher não fazer. A chave deve estar em afunilar o seu foco e descobrir aquilo que não deve perseguir. Escolher aquilo que não deve fazer. É isso que torna aquilo que resta em algo incrivelmente poderoso. Acredite no poder da edição. Simplifique as listas. Simplifique os produtos. Simplifique as palavras. Pense no que podemos retirar para que o resultado final seja mais forte. Atreva-se a fazer menos.
* Este artigo foi originalmente publicado na Executive Digest.
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