Não é muito habitual escutar lideres a pedirem ajuda, partilharem as suas frustrações e problemas com a sua equipa.

Digamos que parece subsistir a ideia preconcebida de que os lideres são pessoas autossuficientes, que são donos de todo o conhecimento, uma espécie de super-herói da Marvel.

 

 

Aquele que veste a sua capa sempre pronto para resolver os problemas da equipa, os aconselhar, confortar, são as "torres" a quem se recorre quando tudo está a cair, com poderes sobrenaturais.

E se em um belo dia… a equipa escuta o líder super-herói pronunciar "Ajudas-me?".

 

Escutar o líder a fazer esta pergunta, depois de um historial de feitos extraordinários, em que a sua competência supera o normal dos que caminham há meses/anos com ele, podemos compreender se a equipa se surpreenda. Esta pergunta tão simples constitui um marco na vida do líder e sua equipa, sem ambos o compreenderem.

 

Escutar um líder a pronunciar estas palavras é algo maravilhoso, pois trata-se um momento de partilha de profunda fragilidade e de intimidade. O líder vai finalmente partilhar com a sua equipa algo muito pessoal, algo que a equipa muitas vezes não está preparada para ouvir e lidar. É também um momento que pode tornar muitas pessoas dececionadas com o líder e/ou deixarem de o seguir.

 

Porque será assim? Fico impressionada quando escuto lideres a comentar que não podem mostrar a sua fragilidade, devem ser sempre fortes e do mesmo modo, equipas que abandonam o líder nos momentos de dificuldade, pois assumem que o líder é um “ser superior”, autossuficiente, que é pago para isso e eles não. Existe preconceito e o julgamento no líder e nos que o rodeiam.

 

Os lideres lidam com os problemas dos outros, com as dificuldades dos outros (ex: o filho do colega pode ter problemas na escola, mas o filho do líder não; o casamento do líder não pode ter uma crise e se tiver, tem de guardar para si).

 

  • Como é que a equipa vai receber essa fragilidade?
  • Para quem é que o líder partilha os seus problemas?
  • As pessoas sabem onde pedir auxilio e o líder?
  • O líder é solitário, e até quer abrir o seu coração, mas a questão é para quem?

 

Nem todos os que rodeiam o líder estão capacitados para lidar com as suas fragilidades de forma imparcial e autêntica. Por isso, o líder tem que fazer uma seleção sábia de pessoas, que sejam verdadeiras (ex: aqueles que nos dizem que a nossa apresentação não foi espetacular e não os que nos dizem que fomos extraordinários, só porque o querem agradar e/ou querem ver o líder cair) - às vezes não chegam a contar os cinco dedos de uma mão. Mas ainda com a seleção de pessoas, o líder não pode esconder o que sente, pois não é suposto suportar tudo sozinho.  E ao partilhar, deixa de lutar sozinho, reduzindo a probabilidade de cometer erros. Os erros surgem não por falta de competência ou potencial do líder, mas por cansaço, por negligência das suas fragilidades humanas.

 

O que falta na liderança de hoje é termos lideres que pedem ajuda e pessoas que o escutam de forma imparcial, o aconselhem quando aquela decisão vai trazer dano, para que também ele possa ajustar o seu caminho. Vejo lideres preocupados com as possíveis deceções e “traições” de pessoas que vieram ajudar naquilo que eles são limitados.

 

Grande parte do sucesso da liderança reside no facto de o líder e sua equipa "serem quem são"! Cheios de limitações, dúvidas e ao mesmo tempo cheios de potencial e luz. Que possamos aceitar as nossas fragilidades como sinais de força e não fraqueza. Que sejamos autênticos connosco mesmo, durante o caminho...até o Homem Aranha e a Super Mulher precisam de ajuda! :)

 

Escrito por

Alina Oliveira

Autora do livro “ Resiliência para Principiantes” – ed. Sílabo, 2010.Sou formadora e consultora nas áreas da gestão e liderança de equipas, resiliência, comunicação e gestão de conflitos, gestão do tempo, resolução de problemas, relações cliente/fornecedor.Um dos temas que mais me apaixona é a Resiliência, o que me levou a escrever um livro sobre essa temática: “Resiliência para Principiantes”.
Saiba mais